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A arquitetura vegetariana de Simón Vélez

20/09/2021
Simón Vélez, o grande especialista mundial na utilização do bambu como componente estrutural das suas obras, considera que a arquitetura deve ser mais vegetariana e defende uma abordagem mais equilibrada e de mistura de materiais e estrutura mista para a construção e o design, em conjunto com a incorporação de materiais mais naturais.

Simón Velez, filho e neto de arquitetos, começou a explorar a arquitetura indígena e a utilização de materiais naturais tradicionais há cerca de 35 anos. Durante a sua investigação, descobriu e analisou uma técnica construtiva que lhe permitia trabalhar com o Guadua, nome atribuído popularmente ao bambu na Colômbia, e que é conhecido como a madeira dos pobres. 

Nas palavras de Vélez, “é um material de altíssima tecnologia da natureza que não é nem para ricos nem para pobres, mas sim para seres humanos”. O bambu é um material orgânico de origem natural que tem propriedades semelhantes ao aço: grande resistência, durabilidade e de fácil utilização. Além disso, a sua cultura e processamento são ecológicos e é uma das melhores plantas a absorver dióxido de carbono da atmosfera, portanto é um material sustentável. 

A partir daqui, Vélez começou a projetar uma arquitetura mais estudada e fluída, onde destaca o próprio design e a solução das coberturas. De facto, o próprio define-se como um "arquiteto de telhados": "desenho primeiro uma ampla cobertura e depois tudo o resto. A minha arquitetura é arquitetura tropical. Num país onde chove todo o tempo, há que construir telhados com grandes beirais, como na arquitetura da China e da Indonésia".

 

Uma arquitetura mais vegetariana e menos mineralista

O conceito de base de Simón Velez é que a arquitetura deve ser mais vegetariana, já é que atualmente demasiado mineralista. Considera que existe uma superdose de minerais (betão, aço, vidro e plásticos) na indústria da construção, sobretudo nos países do terceiro mundo, e que é necessário envolver a agricultura na indústria da construção. Defende uma abordagem mais equilibrada e de mistura de materiais e estrutura mista para a construção e o design, em conjunto com a incorporação de materiais mais naturais.

O resultado são obras que ultrapassam os limites da construção, com expressões estruturais e arquitetónicas modernas, únicas e inimagináveis: luzes grandes, espaços volumosos com alturas impressionantes, cúpulas elípticas e estruturas em forma de cúpula, etc.

A sua obra é composta por diferentes tipos de edifícios, residências, pontes, igrejas, pavilhões e todo o tipo de estruturas ao redor do mundo. Destacam-se:

  • A Catedral "provisória" de Nossa Senhora da Pobreza em Pereira, Colômbia. Vélez utilizou uma estrutura feita com Guadua como catedral provisória enquanto os trabalhos de reconstrução da catedral propriamente dita, que ficou danificada devido a um terramoto em 1999, eram feitos. 
  • O Museu Nómada do Zócalo na cidade do México. Foi a maior estrutura construída com bambu, uma estrutura temporária de três naves com 5,130 metros quadrados que ocupa quase metade da Praça do Zócalo, a maior da América Latina.
  • O Crosswaters Ecolodge, um lodge de ecoturismo nas montanhas de Nankun, China. Os edifícios deste albergue ecológico e centro de bem-estar foram construídos com materiais ecológicos e seguem o estilo vernáculo da região. Simón Vélez desenhou e construiu a ponte, um quilómetro de passarela, a torre de vigia e o restaurante. Por este projeto, Vélez recebeu o Prémio de Honra de Análise e Planeamento 2006 da Sociedade Americana de Arquitetos Paisagistas.
  • O Pavilhão ZERI para a Expo 2000 em Hanover, Alemanha. Vélez deslumbrou na Alemanha com a tecnologia e beleza das estruturas em Guadua. Os testes de carga que foram realizados para obter a licença de construção demostraram resistências iguais às do betão, com resultados que estiveram à volta dos 400 quilogramas por metro quadrado.

 

O trabalho de Simón Vélez tem influenciado o desenvolvimento de novas técnicas de construção. A utilização do bambu permite a criação de edifícios perfeitamente vinculados às condições climáticas típicas das regiões intertropicais, ao mesmo tempo que proporciona um sistema de projeto e construção ecologicamente sustentável que combina a inovação científica com os princípios bioclimáticos. 

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